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Brigas, gritos e castigos: isso resolve o mau comportamento?

Atualizado: 3 de fev. de 2022

Por Juliana Nishihashi

Texto originalmente publicado no blog Autenticão



Muitos tutores têm dúvida se todos os cães podem ser educados só com reforço positivo. Existe uma crença de que cães hiperativos, agressores ou indisciplinados precisam de uma “mão mais pesada”, o que justificaria usar broncas. E ainda, que educar sem broncas é uma forma permissiva que gera cães descontrolados e sem limites. Mas será mesmo verdade?


Os quatro quadrantes do condicionamento operante


Estes são os quadrantes do condicionamento operante. Nele vemos as quatro formas de lidar com comportamentos, dependendo da consequência aplicada.

Sabemos que reforço positivo acontece quando acrescentamos uma consequência boa a um comportamento, o que aumentará a frequência dele. É o 1º quadrante.

Quando falamos em broncas (brigar, gritar ou pôr de castigo), falamos do 3º quadrante, a punição positiva. Ela ocorre quando acrescentamos uma consequência ruim a um comportamento, para que ele pare ou seja menos frequente. Este quadrante NUNCA é utilizado por treinadores positivos, que dão preferência ao uso do R+ (reforço positivo). Mas por que não utilizamos punições positivas?


Muitos estudos têm avaliado os resultados do reforço positivo e das punições nos cães. Surgiram evidências de que treinamentos punitivos trazem mais danos do que benefícios a educação e bem estar do cão. Por exemplo:


- Univ. Da Pensilvânia (2008) mostrou que 43% dos cães avaliados, treinados com punições como chutes e tapas, se mostraram mais agressivos. 31% dos que eram forçados a mostrar a barriga em submissão (alpha roll) também foram mais reativos. Mesmo broncas “leves” como olhar fixamente para ‘controlar’ o cão causaram agressividade em 29%. Portanto, observamos que treinamentos com punições podem levar a cães mais agressivos.


- Univ. De Bristol (2008) mostrou relação entre método de treinamento e medo, agressividade e excitabilidade – cães que eram frequentemente punidos apresentavam mais desses problemas. Percebemos que punições não são eficazes para modificar esses comportamentos, e pior, podem ser a causa deles.


- Em 2017, a revisão de 17 estudos sobre comportamento canino demonstrou de forma geral que o uso de punições positivas (das mais leves como gritar até as mais pesadas como coleira de choque) eleva risco de problemas físicos e comportamentais e não houve comprovação de que elas dão mais resultados do que o reforço positivo. Ao final, recomendam o uso de técnicas menos invasivas possíveis, que têm maiores chances de sucesso e menores riscos de surgimento de outros problemas.


Mas e em casa, na prática?

Como treinadora de cães há quase 8 anos, percebo algumas questões associadas às broncas:

- Muitos tutores acreditam que precisam dar bronca para mostrar que são os líderes ou “dominantes”; pense, se você trabalha numa empresa, seu chefe precisa punir os subordinados o tempo todo para demonstrar que tem o cargo superior? Isso não faz sentido!


- Por focar em punir atos inadequados, voltamos nossa visão para o que o cão faz de errado, muitas vezes ignoramos comportamentos adequados e perdemos oportunidades de recompensar, o que é mais eficaz. Mas principalmente, muitas pessoas simplesmente não ensinam quais comportamentos querem dos cães, elas somente punem os comportamentos que não querem.


- Broncas, mesmo leves, podem ser extremamente nocivas a alguns tipos de cães (ex. fóbicos ou mal sociabilizados). E o pior: só veremos as repercussões negativas depois que as broncas já foram aplicadas (como cães que reagem a homens por terem sido punidos por um, por exemplo). Pra que arriscar, não é mesmo?


E quanto ao treinamento sem broncas ser permissivo? Esclarecemos que recompensar bons comportamentos não tem a ver com deixar comportamentos errados acontecerem livremente. Impomos limites de forma diferente: primeiramente, ensinamos o que queremos dos cães com R+. Em seguida, fazemos manejo inteligente do ambiente, evitando comportamentos errados. E ocasionalmente, se necessário, usamos o 2º quadrante do condicionamento operante, a punição negativa.


Na prática: meu cão rouba alimentos da mesa. Ensinarei que ele sempre deve sentar para ganhar o que quer; em seguida, não deixarei alimentos dando sopa nos balcões e mesas e enriquecerei o chão com brinquedos (manejo inteligente). Porém, se em algum momento meu cão tentar pular na mesa, eu simplesmente retirarei o acesso dele a ela – seja afastando-o com minha mão ou fazendo uma barreira com meu corpo. Essa é a punição negativa, onde retiro (-) algo que o cão quer, como consequência de um ato errado. Simples, não? Eu não vou deixar o cão desempenhar o comportamento errado, mas também não preciso adicionar uma consequência ruim para ele.


Por isso, broncas, gritos, castigos não são necessários para o treinador positivo. Temos muitas outras formas de ensinar os cães sem correr risco de causar os prejuízos citados acima. Além de ser muito mais prazerosa a relação onde não precisamos nos impor, nos estressar, tentar dominar o outro. Todas essas informações podem ser comprovadas pelos inúmeros estudos atuais sobre cães e também pelo grande número de profissionais e tutores que testaram o reforço positivo e se surpreenderam com resultados mais confiáveis e duradouros.

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