Por Oliver So
Texto publicado originalmente no blog Autenticão
Toca o alarme, pula da cama, olha o celular, toma banho, olha o relógio, coloca a roupa, olha o
celular, toma café, olha o relógio, escova os dentes, olha o celular, olha o relógio, sai pro
trabalho, pega ônibus/metrô/carro olha o celular, pega trânsito, ouve música, olha o celular,
chega no trabalho, olha os e-mails, olha o celular, trabalha, trabalha, trabalha, celular, internet,
trabalha, trabalha, almoça, conversa, café, trabalha, trabalha, procrastina, celular, café com
conversa, trabalha, trabalha, celular, internet, trabalha, sai, trânsito, celular, celular, casa,
trabalha de casa, janta, celular, banho, celular, série/filme/livro, celular, programa alarme, cai
na cama, dorme.
Ufa! É cansativo só de ler. Tanta coisa para fazer que nem dá pra saber se conseguimos
encaixar mais alguma no meio disso tudo. Mas, por mais que o ritmo esteja realmente muito
exagerado para qualquer pessoa hoje em dia, mente e corpo das pessoas costumam estar
ocupados.
Imagine agora a rotina de um cachorro em casa. Independente de quanto espaço ele tenha. Seis, oito, dez, doze horas podem ser uma eternidade para ele. Principalmente se não oferecermos atividades e estímulos nesse tempo todo. Aquele dito popular "Mente vazia, oficina do diabo" cabe perfeitamente nesses casos dos cães.
Primeiro, precisamos pensar que cada tutor optou por receber o cão em sua casa. Assim,
assumiu a responsabilidade sobre esse animal, precisa suprir as necessidades dele e prezar
pelo seu bem estar (pensar na qualidade de vida e na natureza dos nossos cachorros não é
frescura, é nossa obrigação). Não oferecer atividade ao cão seria mais ou menos como se a
gente ficasse fechados em casa, sem contato com outras pessoas, sem nenhuma forma de
entretenimento - celular, televisão, livro, revista, computador etc.
É aí que entra o enriquecimento ambiental (EA). Para quem não conhece, trata-se literalmente
de tornar o ambiente mais rico para o animal, considerando a natureza e as necessidades dele.
É criar estímulos e atividades para ele ocupar o tempo sozinho. Podem ser desafios para
encontrar brinquedos, brinquedos próprios para o cachorro ter que tirar comida de dentro,
cheiros diferentes, brinquedos próprios para roer ou destruir, rodízio de brinquedos para ter a
sensação de novidade, passeios para interação com outros cães (se for um cão sociável) ou
para farejar e explorar. Note que todas essas atividades acabam estimulando a mente e os
sentidos do cachorro. Isso faz com que ele se sinta ocupado e dá muito menos margem para
desenvolver comportamentos inadequados, como destruição, latidos excessivos, compulsão.
Não significa que é garantido que não irá desenvolver, mas pode minimizar bem as chances.
Afinal, esses comportamentos podem ser influenciados por outros fatores.
Existem muitas opções de brinquedos próprios para essa finalidade e muitas outras que você
pode fazer na sua casa, com materiais que normalmente nos no lixo. É preciso ter cuidado e
supervisão para ver o que vai servir melhor para o seu cão e o que será melhor para estimulá-
lo. Hoje em dia, existem muitas fontes interessantes na internet com exemplos de como fazer
essas atividades. Basta pesquisar "Enriquecimento Ambiental" e "Cachorro", que aparecerá um monte de dicas práticas. Teste, veja se está muito fácil ou muito difícil, facilite ao ponto dele conseguir ficar estimulado, mas que tenha alguma dificuldade para isso. Ele conseguindo superar o desafio proposto, não tem porque ficar com dó. Com certeza é o melhor que você pode fazer para ele.
Além disso, os passeios são muito importantes também para ter um gasto de energia, somado a exploração de ambientes, faro e, se possível, interação social com outras pessoas e animais.
Para quem não tem tempo mesmo, também há formas de suprir as necessidades com
passeadores, creches de cães, adestradores e pet sitters. O importante é pesquisar e conhecer bem o(s) profissional(ais) com quem você irá deixar seu cachorro.
Por mais corrida que seja a sua rotina e por menos tempo que tenha disponível, suprir as
necessidades dos cães pode parecer desgastante, mas é imprescindível para oferecermos
uma boa qualidade de vida aos bichos. Se estivessem na natureza, eles teriam muito com o
que se ocupar. Nas nossas casas, nós é que precisamos oferecer essa ocupação a eles.