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Fase de sociabilização

Atualizado: 3 de fev. de 2022

Época de ajudar seu cão a descobrir o mundo


Por Juliana Nishihashi


Quando falamos em filhotes e treinamento, normalmente a primeira coisa que vem à mente dos tutores é... treino para xixi e cocô no lugar certo! Entendemos, isso pode se tornar um problema sério caso o cão não seja orientado desde o início – e é um dos pontos que ensinamos nas aulas e consultorias – porém, para o treinador positivo, o primeiro grande ensinamento para filhotes é a sociabilização.


Por muitos anos, não se falou em sociabilização para cães. Achávamos que ao comprar ou adotar um cão, ele automaticamente saberia lidar com todas as coisas que cruzassem seu caminho – outros cães, humanos, outros animais, motos, bicicletas, aspiradores de pó, etc etc. Mas é uma utopia pensar que um animal de outra espécie pode entender sozinho as coisas do universo humano, e ainda por cima, que irá gostar e não se assustar com coisas mais “estranhas”- venhamos e convenhamos que barulho de furadeira e skates não são coisas fáceis de lidar! Então, por que pensávamos que nossos cães aprenderiam a lidar com essas coisas sozinhos? Ainda bem que esse tempo já passou e agora se fala mais sobre o processo de sociabilização, como ele deve ser feito, e como ele impacta nossos cachorros.


Vamos por partes , primeiramente, qual a definição de sociabilização? Gosto de ser simples e direta:

sociabilização é o processo pelo qual apresentamos ao filhote o maior número de estímulos com os quais ele conviverá em sua vida, de forma gradual e positiva, respeitando as limitações de cada filhote.

Quando falo em estímulos, pense em coisas que seu cão verá na rua, nos passeios, em casa, em áreas externas e internas. Essa ilustração serve de guia fácil para lembrarmos quantas coisas precisamos apresentar para nossos filhotes:


Aprendendo com a linda ilustração de doggiedrawings.net - e ao lado, a tradução de cada quadro



E quando devemos iniciar o processo de sociabilização? Assim que o filhote chegar em casa! Não existe “cedo demais” para sociabilizar o filhote, porém, é importante lembrar que filhotes devem permanecer com a mãe e a ninhada até pelo menos 60 dias de vida, pois essa fase é valiosíssima para que aprendar um pouco de etiqueta canina, linguagem corporal e comunicação, controle de mordida e auto-confiança – de uma forma tão natural que nós humanos raramente conseguimos substituir! Vejo pelos meus filhotes, que foram adotados e não puderam desfrutar do convívio com a mãe, e chegaram a minha casa com apenas 32 dias! O processo de sociabilização foi intenso, porém, ficam algumas lacunas comportamentais que precisamos diariamente preencher, com compreensão, paciência, e muito treino e recompensas. Por isso, se você puder, aguarde até pelo menos 60 dias completos para pegar seu filhote, e então inicie o trabalho de sociabilização diária.


Esse trabalho deve permanecer intenso até pelo menos o 4º mês de vida (120 dias), pois é nessa fase que termina a chamada “janela de sociabilização”. Dos 60 aos 120 dias, período curtíssimo, precisamos nos programar para fazer a apresentação gradual e positiva dos estímulos da imagem acima (e outros, quantos você puder lembrar). Sei que é bastante coisa, mas é fundamental para ajudar seu cão a entrar com o pé direito na vida adolescente e adulta! Depois dessa fase, eu recomendo fortemente que você continue com a mentalidade de sociabilização por mais alguns meses, observando atentamente as reações do seu cão em relação aos estímulos, recompensando, afastando quando necessário, tentando outras abordagens para estímulos que parecerem assustadores.

Como sempre falamos, entender cada indivíduo e não pensar em fórmulas prontas é fundamental, e na sociabilização não seria diferente. É necessário observar bem o filhote e entender o que ele precisa para aceitar bem determinado estímulo – por exemplo, o filhote pode desejar se aproximar com interesse e tranquilidade de algo barulhento, mas pode se sentir inseguro e desejar distância de uma superfície desconhecida. Então, o tutor deve trabalhar dentro do que o filhote demonstra, de forma muito sensível e sem forçar a nada, lembrando de ser gentil e de recompensar com guloseimas.


Por que guloseimas? O apetite do cão saudável sempre será nosso norte durante um treino, quando queremos avaliar o grau de ansiedade. Um cão que sempre aceita um biscoito, numa determinada situação passar a negar, é um sinal de alerta. E da mesma forma, um cão arrancar o petisco de nossa mão e rapidamente engolir, indica um cão estressado. Então, durante a sociabilização, o alimento tem a função de recompensar os comportamentos desejáveis, e medir se o cão está tranquilo e em condições de raciocinar. Compare, numa situação assustadora e tensa, você conseguiria comer calmamente um bombom?


Sugiro sempre criar rotinas e horários para fazer a sociabilização externa, e dentro de casa, o próprio dia a dia deve ditar o que vamos fazer. Exemplo: pela manhã, num horário calmo, levar o filhote à rua por 15 minutos, para comer o café da manhã vendo veículos e outras pessoas. Ao fazer o café da manhã, brincar com o filhote ao usar o liquidificador. Dar guloseimas ao passar aspirador de pó à tarde. A noite, dar o jantar do cão perto de um parque, dentro do carro, para que ele veja outros cães brincando. No final de semana, receber um cão da família que seja equilibrado e saudável para brincar com o filhote. Esquematizar tudo certinho na ponta do lápis, facilita o processo (admito que eu tinha um esquema grudado na porta da geladeira, mas não precisa bancar a doida da planilha que nem eu!).


Uma coisa muito importante que sempre friso (até com certa insistência!), é a importância de não forçar o cão a interagir com coisas que ele julgue assustadoras.

Muitos tutores, com toda a boa intenção do mundo, ao perceberem medo ou insegurança de seus filhotes, passam a incentivar uma aproximação, explicando que o estímulo é bom, falando com voz mais fina, interagindo eles mesmos com o estímulo na tentativa de mostrar que não existe risco, e isso não ajuda em nada o cachorro! Pense você, se tivesse medo de aranhas, de que ajudaria um amigo seu acariciar uma aranha na sua frente e te falar que ela não é perigosa? Da mesma forma, o cão só vai se aproximar quando ele tiver interesse, e muitas vezes esse interesse surge quando ele pode abordar o estímulo de uma forma indireta, e de preferência com possibilidade de manter a distância! Portanto, ao reparar no menor sinal de medo do seu filhote, ajude-o a sair da situação de forma calma e alegre, e numa próxima vez, recompense qualquer demonstração de interesse dele, mesmo que de longe.


Um assunto polêmico dentro da sociabilização é o “quando?”. Sabemos que os cães só estarão perfeitamente imunizados depois das 3 doses de vacinas iniciais, portanto, não devemos expor o filhote a outros cães desconhecidos e lugares públicos antes disso. Mas esquecemos que, para sociabilizar, o cão não precisa estar no chão, muito menos encostando em outros animais e pessoas – é até muito bom que o cão possa observar de longe os estímulos no início! Portanto, é possível sim iniciar a sociabilização externa antes das vacinas terminarem, levando o filhote numa bolsa ou até num sling, sempre com a pochete cheia de recompensas, e a explicação na ponta da língua: “não posso deixar nossos cães brincarem pois está em fase de vacinação!”.


Assim como falei que é importante trabalhar com intensidade a sociabilização desde os 60 dias de vida até o 4º mês, também é importante falar que depois que se fecha a “janela” no 4º mês, a sociabilização não tem o mesmo efeitos, se iniciada nos meses seguintes. “Mas Juliana, e se eu adotei um cão com mais de 4 meses? Não há nada a ser feito??” – Há sim! Porém, algumas conexões neurais já aconteceram e ficaram um pouco marcadas no cão, algumas associações já foram feitas (boas ou ruins) e estabaleceram padrões de comportamento, o cão já passou por experiências que não poderemos influenciar. Então, a sociabilização deve ser feita exatamente da mesma forma como descrevi aqui, mas terá também a função de treinar o cão, caso já apresente alguns problemas de comportamento. Perder a fase de sociabilização ao adotar um filhote mais velho não precisa ser motivo de culpa ou tristeza. Só precisamos ter em mente que talvez o trabalho será mais intenso.


Agora que você já sabe um pouco mais sobre a sociabilização de filhotes, peço que passe essa informação para familiares, amigos e conhecidos que desejam ter um cão. Essa deve ser a prioridade das prioridades quando falamos em filhotes! E muitas pessoas ainda não estão familiarizadas com esse processo – que é tão trabalhoso quanto divertido e gratificante. Ajudar nosso cão a entender e conviver com nosso mundo é iniciar uma caminhada de confiança e amizade!

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