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Falando sobre latidos

Atualizado: 3 de fev. de 2022

parte 1


por Juliana Nishihashi


Um dos pedidos mais frequentes em consultorias é a solução de problemas com latidos. Sempre que recebemos casos assim, pensamos em excesso de latidos, porém alguns tutores acreditam que os latidos sempre são comportamentos errados. Por um lado o excesso realmente é um problema, mas precisamos entender que latidos e outras vocalizações fazem parte do repertório dos cães e são comunicações naturais (estudiosos dizem inclusive que o latido foi consolidado nos cães por conta da evolução conjunta ao homem, por ser útil às comunidades humans!). O que nos interessa é tratar excessos e quando as vocalizações demonstram que o cão está estressado, em desequilíbrio e quando os latidos são causados por falhas na comunicação entre cães e humanos.


Normal, se não for em excesso!


Como falei, em algumas situações os latidos podem ser vistos como comportamentos não prejudiciais. Por exemplo, um cão que está em seu quintal, mas avista algo estranho no muro da casa. Naturalmente, por instinto de defesa e alerta ao seu grupo, este cão vai latir. Então, como diagnosticamos se existe um problema? O cão precisa saber que assim que os tutores chegam ou que o intruso some, ele pode parar de latir. O latido já fez seu papel de aviso. Um cão bem sociabilizado, com boa comunicação com os tutores, treinado com reforço positivo, e exercitado física e mentalmente, deve conseguir se auto-controlar e cessar o latido. Muitas vezes, basta o tutor ensinar o cão a ficar em silêncio sob comando, mostrando um petisco e fazendo comando gestual. O cão tende a olhar para o tutor, e quando parar de latir, recebe a recompensa.


O problema é que muitos cães entram num “looping” de latidos causados por um estímulo, e por não terem as características acima mencionadas, não conseguem se acalmar e silenciar. O latido se torna um comportamento padrão, auto-recompensador (latir pode ser prazeroso, pode trazer algum reforço, como a presença dos humanos que estavam ausentes) e na maioria das vezes, é a única atividade que o cão exerce durante o dia. Por isso, não é incomum vermos algo que iniciou como um comportamento normal – latir para alertar sobre movimentação estranha – se tornar um problema, até uma compulsão – latir para todo e qualquer movimento.



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Play bow ou pose de chamar para brincar

Outra situação onde o latido não é nocivo, mas deve ser controlado, é durante brincadeiras entre cães. É inadequado o cão abordar outro desconhecido latindo em sua direção. Mas cães que se conhecem bem, estão soltos num contexto de brincadeira, principalmente quando há o “play bow” – postura de erguer o traseiro e baixar a frente do corpo como convite para brincar – geralmente soltam pequenos latidos, em tom diferente, mais agudo.


Existe uma pesquisa de comportamentalistas que estudou os latidos emitidos por cães em diversas situações, demonstrando que pela altura, intensidade e cadência dos latidos, os tutores conseguem identificar a causa. Isso é importante porque precisamos identificar essas diferenças para saber quando atuar imediatamente ou quando o latido faz parte do contexto (por exemplo, um cão que convida um cão amigo para brincar tem um tom de latido diferente de um cão que está ansioso e sente-se amedrontado, latindo para afastar outro cães – esse último precisa de assistência do tutor para sair da situação e ser re-treinado em caso de medo excessivo).


No geral, grande parte dos problemas com latidos é causada por medo. Cães mal sociabilizados, não habituados a situações, pessoas e objetos novos, podem latir ao menor sinal de instabilidade no ambiente. Inclusive, podem se passar por cães “agressivos”, “bravos” ou até “corajosos”, porém, ao avaliar o tom do latido e a postura corporal do cão, é possível perceber que o latido é motivado por medo. Nestes casos, não importa qual o estímulo que cause o latido, é necessário trabalhar com a dessensibilização e o contra-condicionamento dos gatilhos, assim como melhorar a comunicação e vínculo com o tutor e aumentar as situações onde o cão tenha bem estar (muito enriquecimento ambiental, caminhadas prazerosas, sessões de massagens, treinos de truques variados, etc).


Latidos também podem ser causados por ansiedade, como falei acima no exemplo dos cães no parque. Vemos isso frequentemente em cães que latem para interfone e campainha, por exemplo. Como esses sons geralmente indicam a chegada de alguém, o que pode gerar ansiedade, os cães passam a latir assim que escutam esse “aviso”. É um caso de condicionamento clássico – aquele que acontece sem a pessoa ou o cão fazer nada: o simples fato de toda vez o interfone tocar e logo em seguida aparecer uma visita, já cria essa associação fortíssima na cabeça do cão. Por isso, precisamos trabalhar para mudar essa associação, para algo totalmente diferente.


Podemos, por exemplo, começar deixando o toque da campainha ou interfone mais baixos, tocar e recompensar se o cão não latir, tocar e oferecer um osso saboroso para o cão roer, tocar e pedir um comando fácil (tudo de forma simulada, sem que realmente haja visitas). O cão começará a perceber 2 coisas – que não é sempre que chegam pessoas depois do som, e que o som traz situações mais tranquilas, mudando lentamente a emoção de ansiedade para calma.


Falando em ansiedade, também é importante lembrar que nossa conduta conta muito. Muitas pessoas relatam que cães latem sem parar quando as pessoas gritam ou brincam com o cão de forma bruta ou agitada demais - este cão está latindo simplesmente por imitação! Portanto se queremos evitar o comportamento do cão, precisamos agir de acordo. Cães que latem na chegada de pessoas provavelmente são muito ansiosos, mas também reforçados pela atitude das pessoas – chegar fazendo muita festa e falando alto, ou chegar punindo com gritos ou gestos brutos. Entrar calmamente, pedir um truque simples e dar um petisco ao cão, é uma boa conduta, assim como virar as costas e parar a interação assim que o cão emitir o primeiro AU.


Para todos os tipos de latido, exercícios de auto-controle são indicados.

Apesar de, inicialmente, parecer que eles não tem nada a ver com o problema em si – pra que ensinar o cão a não pegar um petisco do chão ou não passar correndo por uma porta, se o problema é o latido para a campainha? – esses treinos são fundamentais para aumentar a tolerância às frustrações, o foco do cão no tutor (afinal, ele precisa da liberação do tutor para finalmente passar pela porta!), e principalmente, ensinar ao cão que com calma tudo se resolve! O cão entende que comportamentos exagerados, excessivos e insistentes não levam a nada, e então entender que não precisa latir para pedir comida ou interagir com a visita fica muito mais fácil!


Parte 2 em breve

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